Vou direto ao ponto: desde já deixo claro que conheço pouco a obra da cantora Ana Carolina. Assim como desconheço o trabalho de centenas de outros artistas. Não se trata de preconceito ou de qualquer outro tipo de juízo. Simplesmente o que ouvi superficialmente me levou a não querer aprofundar minhas incursões sobre sua obra. Tenho apenas uma boa lembrança em relação a ela: um show que ela dividiu o palco com Adriana Calconhoto no Central, em Juiz de Fora. Fiquei impressionado com a performance de Ana Carolina. Nunca mais a assisti.
Sim, conheço pessoas que tem histórias que se cruzam com a dela. Posso dizer que sou amigo de Knorr e de Adilson Santos, figuras a quem tenho respeito e carinho, pelo que representam no plano pessoal e principalmente no plano artístico.
Mas esse texto não se refere a relações pessoais. Não se trata de defender os "meus" ou "atacar os "seus". É apenas a reflexão sobre como a lógica das relações artísticas e culturais dizem muito mais do que aparentam. É algo que me interessa, tendo em vista minha posição de poeta e letrista.
Knorr tem um um trabalho informal de resgate da memória da cena cultural de Juiz de Fora. Dono de um acervo incrível, fruto de sua organização meticulosa e consciência, guardou videos, fotos, cartazes, e diversos materias que recontam momentos incríveis da música e da poesia juizforana dos anos 80 e 90. Obviamente ele não é apenas uma testemunha dessa história, é parte dela, uma peça importante, já que como sabemos é sem dúvida um dos mais importantes poetas da cidade, e um músico de mão cheia. Knorr nunca se prendeu a gerações. Ao primeiro convite veio somar esforços conosco, em um movimento que temos em Juiz de Fora, o
Eco performances Poéticas. Nunca reivindicou espçao privilegiado devido sua história, sempre foi mais um como se estivesse - como nós - construindo sua carreira desde ontem.
E eis que um dia, estupefato, vejo que nosso querido Knorr recebe um ultimato do Youtube para retirar um video onde aparece tocando ao lado da cantora Ana Carolina. Essa história vocês conhecem. A polêmica desde então gravitou em torno da justificativa de que o video feria "direitos autorais". A gravidade do fato, que gerou indignação em milhares de pessoas é que trata-se de peça cabal da memória do próprio Knorr, é parte da vida dele e por consequência de nós todos que vivemos a cena cultural de Juiz de Fora naquele péríodo.
Em todo esse tempo de convívio, nunca o vi dedicar uma palavra negativa sequer sobre a cantora. E sua indignação era totalmente voltada contra o que ele julga ser um arbítrio, um golpe em sua memória.
As reações na cidade foram instantaneas. É óbvio que centenas de pessoas se sentiram incomodadas com essa situação.
E mais uma vez, estupefato, me deparei com um
texto acintoso de um fã-clube, chamado de "oficial" que fazia insinuações grosseiras e levianas a respeito de Knorr e da cidade de Juiz de Fora. Não tenho estomago nem paciência para me deter a esse texto. "Fã-clubismo" puro, ou seja, não se trata da defesa da cantora ou de qualquer argumento para debate, é apenas um amontoado de ataques que visam na minha opinião constranger e calar quem critica a diva(sic).
O problema em questão, na minha opinião é apenas um.Vivemos tempo em que artistas entregam suas carreiras a gravadoras e empresários, que na prática são apenas agentes comerciais, que pouco entendem de arte e cultura. Em nome de uma estrutura de trabalho (algo plenamente compreensível) as carreiras tornam-se algo em si. E todo resto parece se perder em meio a essa confusão.
Ora, não se trata de uma crítica a cantora "a" ou cantor "b". Se trata de uma constatação em relação a uma realidade.
Não quero e não tendo a acreditar que a cantora Ana carolina participou de uma decisão expressa sobre a retirada desse material. Mas infelizmente, alguém tem permissão para falar por ela. E seu silencio apenas agravou ainda mais a situação.
A simbologia desses fatos é ainda maior. Estavamos em uma semana onde a liberdade de circulação cultural na internet estava sob ameaça. Grandes corporações queriam nos enfiar uma SOPA quente goela abaixo. Sites de compartilhamento estavam sendo retirados e seus donos presos em operações que mais pareciam ser a destruição de aparelhos subversivos em tempo de ditaduras.
Que todos sejam capazes de refletir, sem intermediários, sem fãs exaltados, mas com seriedade, medindo de forma realista, como fatos como este representam bem mais que simples direitos. São parte de uma visão de mundo.
Atualização no dia 26/01/2012
A colunista Hildegard Angel publicou em seu blog a resposta obtida do escritório da cantora Ana Carolina. Clique
aqui para ler.
Não pretendo aprofundar o debate. Acho que a resposta consolida uma preocupação expressa no meu texto, e que acredito estar bem clara. Reitero: nas relações artísticas e culturais podemos definir como enxergamos o mundo, o que inclui intrinsecamente nossas carreiras.
Agradeço aos que entenderam e aos que não entenderam minha posição.