Bailes funk, raves, música nos bares e até mesmo um charmoso café na lista?
O espaço da urbe é das pessoas. Ao menos deveria ser assim. As ruas, as calçadas, as praças, os parques. Seja noite ou seja dia, a cidade deveria ser feita para as pessoas viverem, circularem, se encontrarem. A mobilidade, as possibilidades de vivência, são fundamentais para o tão sonhado bem-estar.
Nos últimos anos, porém, temos assistido em Juiz de Fora um retrocesso. Algumas proibições atingem justamente a possibilidade de lazer e cultura em nossa cidade.
Eu já havia tratado do tema anteriormente quando da proibição de uma festa rave na cidade, em uma época que também sofria com a proibição os bailes funk no centro da cidade.
Eis que nos últimos dias assistimos a movimentação aguerrida dos músicos da cidade contra a constante proibição de seu exercício de trabalho através da música ao vivo em bares da cidade.
Tribuna de Minas |
Sabemos que toda cidade tem regras, estabelecidas em código de posturas, lei orgânica e até mesmo o código civil que rege a todos nós nesse sentido. Porém quando a letra fria da lei vale mais que o bom senso, a regulação e o diálogo, acabamos nos perdendo na escuridão da proibição automática.
A declaração sóbria e correta de meu amigo Fred Fonseca a Tribuna de Minas no dia 13 de setembro é esclarecedora:
"Não temos o objetivo de desrespeitar a comunidade. Sabemos que há formas de isolamento acústico e equipamentos com potência adequada que possibilitam o bem-estar dos moradores. Se a música é o fator principal do estabelecimento, ela deve ser tratada com respeito pela casa, e, quando isso acontece, o frequentador daquele local entende a proposta e vai ali para apreciar as canções apresentadas. Lutamos para que seja feita uma revisão no processo de aquisição dos alvarás".
Ora, os músicos são trabalhadores da cultura, que levam entretenimento e arte a população nesses espaços. Deveria ser prioridade de uma cidade que quer promover o bem estar, efetuar um diálogo qualificado com eles, não é?
A cidade vive um momento ímpar na música. Inúmeros artistas excepcionais, compositores de grande qualidade, eventos ocorrendo, a exemplo do Encontro de Compositores que reúne diversas gerações, discos saindo. Me parece um equívoco que o diálogo não seja a prioridade.
Patrimônio para quem?
Ontem ao visitar o Espaço Café Central, aquele que fica em uma das galerias laterais do belo Cine Theatro Central, fui convidado a assinar uma petição contrária a restrição da colocação de mesas naquele local. Reclamações dirigidas à Comissão Municipal de Preservação do Patrimônio (COMPAC) e repassadas a SMAU, que notificou o estabelecimento, são o motivo.
Como historiador, e estudioso do patrimônio, me causa estranheza tal medida. Na minha opinião é justamente a presença desse café que ajuda as pessoas a prestarem a atenção nesse belíssimo prédio, tão importante para a história e cultura de nossa cidade. É nele, e no estabelecimento vizinho, que as pessoas se integram com o patrimônio, tornando-o vivo, efetivamente público.
Se existem reclamações por parte da população, por que não ampliarmos a discussão pública sobre tal fato?
Se existem reclamações por parte da população, por que não ampliarmos a discussão pública sobre tal fato?
O Central sofre com pichações, esse é o verdadeiro problema. O que tem sido feito para evitar esse tipo de deterioração?
Mais uma vez, me parece que a falta de diálogo faz com que órgãos competentes ajam desprendidos da realidade. Prefeitura, câmara, associações, empresários, sociedade civil e Ministério Público precisam conversar, interagir. Do contrário, só perdemos.
Juiz de Fora é uma cidade que merece ser viva, plural, pulsante em sua cultura e vivência. Não podemos deixar que ela se torne, como a cidade de São Paulo, famosa pelas proibições, uma Juiz de Fora "proibidona".
Nenhum comentário:
Postar um comentário