Foto: Mídia NINJA |
“Multidão é o conceito de uma potência. Somente analisando
a cooperação podemos, com efeito, descobrir que o todo de singularidades produz
além da medida. Esta potência não deseja apenas se expandir, mas, acima de
tudo,quer se corporificar: a carne da multidão quer se consubstanciar no corpo
do General Intellect. (...) Tal como a carne, a multidão é pura potência, ela é
a força não formada da vida, um elemento do ser. Como a carne, a multidão
também se orienta para a plenitude da vida. O monstro revolucionário chamado
multidão que surge no final da modernidade busca continuamente transformar
nossa carne em novas formas de vida” (Antonio Negri - Para uma definição ontológica da Multidão).
Não há “nova classe média”
A carne viva está nas ruas. O processo histórico da
última década nos trouxe até aqui.
Algumas observações do Prof. Giuseppe Cocco me
parecem fundamentais para entender o processo: em primeiro lugar, não se trata
exatamente do movimento de uma “nova
classe média” como alguns insistem em assinalar. Estamos diante, na prática, da
nova composição do trabalho nas regiões metropolitanas. Para ele uma das conseqüências
da mobilidade social da era Lula é a “mobilização
da multidão do trabalho metropolitano”. A multidão “do Rio e de SP nos mostra que a “inovação da esquerda” não passa por “novos
nomes tecnocratas” mas sim “pela nova composição” desse trabalho.
O que os governos não entendem
(ou não querem entender)
O dilema dos governos está dado.
Entender a potência da multidão em sua nova conformação e redimensionar seus
comportamentos. Do contrário, aprofunda-se a crise de representatividade pautada
pelo crescente anacronismo de nossas instituições e modos de governar.
Entre a sedução da indiferença e
a diferença da política
Haddad não pode se deixar seduzir
pelo “gerencialismo”. Buscar a legitimidade da maioria dos paulistas
reafirmando um perigoso dogma pode ser a perda fatal da oportunidade de ser
protagonista de uma nova realidade no país.
Ir além do simples ativismo
Por outro lado os movimentos
precisam avançar do estado de mobilização para o da organização e proposição. Estabelecer
relações e ações em múltiplas frentes. Trata-se de um movimento de permanente
interação entre os atores. Isso inclui fugir da sedutora opção pelo ativismo
pelo ativismo.
A encarnação do inimigo – ou o fantasma
vivo do pior passado
A polícia de Alckmin está sem
máscara. Máscara essa, aliás, que o governador nunca teve. A noite de ontem trouxe à sociedade todas as
evidências e fatos possíveis de que a máquina de repressão é retrógada,
violenta e autoritária. A ação do governo estadual acentua ainda mais o
paradoxo. Obriga ainda mais os campos políticos que tem algum tipo de
compromisso com a multidão a agir diferente e entender que nesse momento é
fundamental uma ação efetiva que abra portas e os diferencie dos outros.
A rua é a vida - e sua voz é a sobrevida
das instituições
As ruas estão apenas
corporificando a história sob nossos olhos. Hoje o tema do transporte público
ganhou força dentro da lógica da “mobilização da
multidão do trabalho metropolitano” que Cocco destaca brilhantemente. Outras (novas)
contradições aparecerão ao longo do período e provavelmente não passarão
despercebidas dos desejos e sentidos da multidão. Acentuam-se pelas iminentes
contradições do velho Brasil autoritário e desigual. Mas também pelo estopim
das limitações do novo Brasil “desenvolvimentista”.
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