Texto originalmente escrito para o Dossiê 50 anos do golpe da Universidade Nômade.
O legado da ditadura ainda é forte entre as populações marginalizadas e vulnerabilizadas pela paz do capital, apesar das mobilizações e lutas sociais dos anos 1970 e 1980, com o novo sindicalismo, os “novos movimentos” e a condensação das lutas ao redor da fundação do PT. A luta pela memória é atual.
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Colégio Sion, 1980. Foto: Juca Martins. |
A perspectiva que reina há décadas na historiografia e nas ciências sociais brasileiras, de forma vulgar e resumida, pode assim ser esquematizada: a resistência à ditadura civil militar brasileira teve diversas frentes, pacíficas, armadas e institucionais, que culminaram numa espécie de efervescência da sociedade civil nos anos de 1980. Esta nos apresentou novos atores sociais, novos sindicalismos, e novas formas de organização social, levando ao processo de democratização, materializado pela constituição de 1988. Essa constituição foi adjetivada de “cidadã”, expressão essa que demarca claramente o olhar enviesado sobre o imaginário do período e os valores em disputa.
Os novos atores sociais e o novo sindicalismo (que culminou na fundação do Partido dos Trabalhadores), para além da existência real desses atores como “novos”, têm grande relação com a tentativa de construir uma vitória sociológica sobre a tese do “populismo”. Ou seja, com a tentativa de demonstrar como supostamente tais setores em ascensão foram capazes de eliminar as contradições de seus similares em períodos passados, superando o atrelamento ao estado, a convivência paternal com o chefe de estado, a aceitação da suposta tutela, e a ausência de um dinamismo marcado pela origem rural de seus membros.