segunda-feira, 25 de julho de 2011

Uma tríade a favor da música popular

Por essas e outras que a música popular é tão resistente. Permance firme forte, independente das modas e fragmentações das ferramentas, que ao invés de serem controladas pelas pessoas, passam a controlá-las. Ao contrário do que se pressupõe, a música popular se ancora na sabedoria do povo, ainda que muitos insistam em relativizá-la.



Ontem, graças a essas maravilhas da tecnologia eu batia um papo com meu camarada e parceiro, o poeta e compositor Kadu Mauad, letrista de mão cheia e dono de um violão absurdamente bom, sobre nossas predileções dentro desse terreno glorioso que é a música popular brasileira. Dividimos há tempos a predileção por um trio que consiramos uma espécie de santíssima trindade do assunto em questão: Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro e Chico Buarque. Esses três gênios que nos oferecem melodias excepcionais e letras que para nós, são incomparáveis. Kadu levantou uma metáfora, que reproduzo aqui com o risco de perder o sentido original: Aldir Blanc é uma espécie de mestre de obras, domina todas as etapas, trabalha intensamente e pesado, ergue e edifica belos trabalhos, e segue de forma discreta sem exigir placas suntuosas em nome de trabalho. Paulo César Pinheiro é um gênio do acabamento. Atento a detalhes, consciente de seu trabalho e genialidade, é capaz de dar brilho às mais simples ou brutas canções, tornar diamantes brutos em jóia dentro de sua habilidade precoce, que o legou desde menino o destino de ser um dos grandes da música brasileira. Chico por sua vez, atua como arquiteto/engenheiro, domina os conhecimentos mais amplos sobre essa riqueza toda, gesticula como alguém que mesmo não nascido na várzea sagrada, buscou com todos os meios possíveis desenvolver sua genialidade e colocá-la a serviço da cultura brasileira.

Falávamos da dificuldade de não emular esses grandes mestres, influências marcadas nas letras de nossos sambas e canções.

Em uma época onde a disseminação das tecnologias de informação fabrica pessoas cada vez mais parecidas, forjadas sob a bandeira de serem "descoladas", "antenadas", navegantes intergaláticos do Planeta "Cool", me parece que a música popular funciona como bastião da integridade de um sentimento forte de amplitude e complexidade.

Cabe dizer que o popular, diferente do "pop", sempre foi complexo. A música e a cultura voltadas a uma sociedade de mercado, radicalizada dos 80 pra cá, se apoiaram em conceitos difusos sobre informação e conhecimento. Radicalizaram uma noção de um expectador apressado, desinteressado pelos grandes temas, pelas grandes sínteses.

Por essas e outras que a música popular é tão resistente. Permance firme forte, independente das modas e fragmentações das ferramentas, que ao invés de serem controladas pelas pessoas, passam a controlá-las. Ao contrário do que se pressupõe, a música popular se ancora na sabedoria do povo, ainda que muitos insistam em relativizá-la.

Os três compositores em questão são o retrato categórico dessa resistência. Firmes em seus objetos, complexos em seus trabalhos, sem medo de perseguir a tão matratada idéia de que temos sim, uma identidade quanto povo, quanto nação.


3 comentários:

  1. Gênios da resistência, herdeiros de Noel!

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  2. A IMAGEM de Chico já responde e fala por si só pelo texto e tríade.

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  3. Tiago, esses dias andei com uma saudade danada de Aldir Blac. Um homem que faz poesia com a palavra, jaz morta, mataborrão (imortalizada por ele), e, ao mesmo tempo, evoca cidadania, dá saudades mesmo. Bela tríade. Acho que a saudade aumento.

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