terça-feira, 25 de setembro de 2012

Juiz de Fora "proibidona"?

Bailes funk, raves, música nos bares e até mesmo um charmoso café na lista?



O espaço da urbe é das pessoas. Ao menos deveria ser assim. As ruas, as calçadas, as praças, os parques. Seja noite ou seja dia, a cidade deveria ser feita para as pessoas viverem, circularem, se encontrarem. A mobilidade, as possibilidades de vivência, são fundamentais para o tão sonhado bem-estar.

Nos últimos anos, porém, temos assistido em Juiz de Fora um retrocesso. Algumas proibições atingem justamente a possibilidade de lazer e cultura em nossa cidade.


Eu já havia tratado do tema anteriormente quando da proibição de uma festa rave na cidade, em uma época que também sofria com a proibição os bailes funk no centro da cidade.





Eis que nos últimos dias assistimos a movimentação aguerrida dos músicos da cidade contra a constante proibição de seu exercício de trabalho através da música ao vivo em bares da cidade.

Tribuna de Minas

Sabemos que toda cidade tem regras, estabelecidas em código de posturas, lei orgânica e até mesmo o código civil que rege a todos nós nesse sentido. Porém quando a letra fria da lei vale mais que o bom senso, a regulação e o diálogo, acabamos nos perdendo na escuridão da proibição automática.

A declaração sóbria e correta de meu amigo Fred Fonseca a Tribuna de Minas no dia 13 de setembro é esclarecedora:

"Não temos o objetivo de desrespeitar a comunidade. Sabemos que há formas de isolamento acústico e equipamentos com potência adequada que possibilitam o bem-estar dos moradores. Se a música é o fator principal do estabelecimento, ela deve ser tratada com respeito pela casa, e, quando isso acontece, o frequentador daquele local entende a proposta e vai ali para apreciar as canções apresentadas. Lutamos para que seja feita uma revisão no processo de aquisição dos alvarás".

Ora, os músicos são trabalhadores da cultura, que levam entretenimento e arte a população nesses espaços. Deveria ser prioridade de uma cidade que quer promover o bem estar, efetuar um diálogo qualificado com eles, não é?

A cidade vive um momento ímpar na música. Inúmeros artistas excepcionais, compositores de grande qualidade, eventos ocorrendo, a exemplo do Encontro de Compositores que reúne diversas gerações, discos saindo. Me parece um equívoco que o diálogo não seja a prioridade.

Patrimônio para quem?

 

Ontem ao visitar o Espaço Café Central, aquele que fica em uma das galerias laterais do belo Cine Theatro Central, fui convidado a assinar uma petição contrária a restrição da colocação de mesas naquele local. Reclamações dirigidas à Comissão Municipal de Preservação do Patrimônio (COMPAC) e repassadas a SMAU, que notificou o estabelecimento, são o motivo.

Como historiador, e estudioso do patrimônio, me causa estranheza tal medida. Na minha opinião é justamente a presença desse café que ajuda as pessoas a prestarem a atenção nesse belíssimo prédio, tão importante para a história e cultura de nossa cidade. É nele, e no estabelecimento vizinho, que as pessoas se integram com o patrimônio, tornando-o vivo, efetivamente público.

Se existem reclamações por parte da população, por que não ampliarmos a discussão pública sobre tal fato?

O Central sofre com pichações, esse é o verdadeiro problema. O que tem sido feito para evitar esse tipo de deterioração?

Mais uma vez, me parece que a falta de diálogo faz com que órgãos competentes ajam desprendidos da realidade. Prefeitura, câmara, associações, empresários, sociedade civil e Ministério Público precisam conversar, interagir. Do contrário, só perdemos.

Juiz de Fora é uma cidade que merece ser viva, plural, pulsante em sua cultura e vivência. Não podemos deixar que ela se torne, como a cidade de São Paulo, famosa pelas proibições, uma Juiz de Fora "proibidona".

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