sexta-feira, 14 de junho de 2013

"Transformar nossa carne em novas formas de vida" - notas sobre SP e o Brasil

Foto: Mídia NINJA

“Multidão é o conceito de uma potência. Somente analisando a cooperação podemos, com efeito, descobrir que o todo de singularidades produz além da medida. Esta potência não deseja apenas se expandir, mas, acima de tudo,quer se corporificar: a carne da multidão quer se consubstanciar no corpo do General Intellect. (...) Tal como a carne, a multidão é pura potência, ela é a força não formada da vida, um elemento do ser. Como a carne, a multidão também se orienta para a plenitude da vida. O monstro revolucionário chamado multidão que surge no final da modernidade busca continuamente transformar nossa carne em novas formas de vida” (Antonio Negri - Para uma definição ontológica da Multidão).


Não há “nova classe média”

A carne viva está nas ruas. O processo histórico da última década nos trouxe até aqui.

Algumas observações do Prof. Giuseppe Cocco me parecem fundamentais para entender o processo: em primeiro lugar, não se trata exatamente  do movimento de uma “nova classe média” como alguns insistem em assinalar. Estamos diante, na prática, da nova composição do trabalho nas regiões metropolitanas. Para ele uma das conseqüências da mobilidade social da  era Lula é a “mobilização da multidão do trabalho metropolitano”. A multidão “do Rio e de SP nos mostra que a “inovação da esquerda” não passa por “novos nomes tecnocratas” mas sim “pela nova composição” desse trabalho.

O que os governos não entendem (ou não querem entender)

O dilema dos governos está dado. Entender a potência da multidão em sua nova conformação e redimensionar seus comportamentos. Do contrário, aprofunda-se a crise de representatividade pautada pelo crescente anacronismo de nossas instituições e modos de governar.

Entre a sedução da indiferença e a diferença da política

Haddad não pode se deixar seduzir pelo “gerencialismo”. Buscar a legitimidade da maioria dos paulistas reafirmando um perigoso dogma pode ser a perda fatal da oportunidade de ser protagonista de uma nova realidade no país.

Ir além do simples ativismo

Por outro lado os movimentos precisam avançar do estado de mobilização para o da organização e proposição. Estabelecer relações e ações em múltiplas frentes. Trata-se de um movimento de permanente interação entre os atores. Isso inclui fugir da sedutora opção pelo ativismo pelo ativismo.

A encarnação do inimigo – ou o fantasma vivo do pior passado

A polícia de Alckmin está sem máscara. Máscara essa, aliás, que o governador nunca teve.  A noite de ontem trouxe à sociedade todas as evidências e fatos possíveis de que a máquina de repressão é retrógada, violenta e autoritária. A ação do governo estadual acentua ainda mais o paradoxo. Obriga ainda mais os campos políticos que tem algum tipo de compromisso com a multidão a agir diferente e entender que nesse momento é fundamental uma ação efetiva que abra portas e os diferencie dos outros.

A rua é a vida - e sua voz é a sobrevida das instituições

As ruas estão apenas corporificando a história sob nossos olhos. Hoje o tema do transporte público ganhou força dentro da lógica da “mobilização da multidão do trabalho metropolitano” que Cocco destaca brilhantemente. Outras (novas) contradições aparecerão ao longo do período e provavelmente não passarão despercebidas dos desejos e sentidos da multidão. Acentuam-se pelas iminentes contradições do velho Brasil autoritário e desigual. Mas também pelo estopim das limitações do novo Brasil “desenvolvimentista”.



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