segunda-feira, 16 de maio de 2011

A desqualificação como arma da reação

Como bem disse certa vez o ilustre Palmério Doria o Brasil é rico em "rebeldes a favor". Gente que empola seu discurso bravio, com gestual e frases de efeito para no final das contas dizerem que não querem que nada mude. Basta ver o que escrevem Mainardis, Azevedos, Jabours, e toda trupe que faz discurso oficial em ritmo de toada "marginal".

Essa arte de reagir a novidade tem se transformado em um desagradável jogo de censura velada, disfarçada em discurso de defesa da liberdade.


Dois episódios foram marcantes nos últimos dias. No primeiro deles, matéria da revista Rolling Stone, relatava uma exibição do humorista (?) Rafinha Bastos, conhecido por sua atuação no Programa CQC da Band,onde ele fazia uma trágica piada sobre estupro. Rapidamente a circulação da matéria gerou críticas contundentes de pessoas das mais variadas. Desde militantes do movimento feminista até cidadãos e cidadãs comuns, na sua maioria se expressando através de blogs e redes sociais.

Rapidamente entrou em ação a "tropa de choque da desqualificação". Rebeldes a favor iniciaram seu trololó em defesa de uma suposta liberdade de expressão, contra qualquer tipo de censura, e contra possíveis tentativas de controlar o conteúdo do humor.

A manifestação dos entusiastas disso que eu considero barbárie, por trás de seu discurso pró-liberdade, trouxeram a cena uma ansiedade radical de tentar calar aqueles que não aceitam esse tipo de "piada". Buscaram contemporizar o episódio, minimizando o problema e principalmente desqualificando aqueles que sentem necessidade de expor seu ponto de vista sobre o caso.

Como eu disse para muitas pessoas, nenhuma pessoa que defende direitos humanos nessa sociedade seria capaz de defender censura prévia. Que os "humoristas" façam suas piadas, mas antes de tudo, estejam prontos para receber as críticas sobre seu trabalho. Infelizmente a tropa de choque da desqualificação, através de seus argumentos busca na verdade calar aqueles que divergem.

No segundo episódio, a lamentável ação de parte da elite paulista, mais precisamente de Higienópolis que se mobilizaram para evitar a instalação de uma estação de metrô na região (prontamente atendida pelo governo de SP). Rapidamente e de forma espontânea, internautas reagiram, se organizando através da hashtag #gentediferenciada. De forma singular, um bem humorado - mas não menos politizado - protesto foi organizado e chamou a atenção da sociedade para o debate da democratização do espaço urbano e do direito.
E a turma fez um som no Churrasco da Gente diferenciada. Foto: Arnobio Rocha

Apesar da absurda ação desse setor, muitos colunistas e "formadores de opinião" correram para desqualificar a ação, questionando vários fatores, menos o próprio episódio. Na ânsia de "censurar" ignoraram o caráter do evento, a participação ampla e a oportunidade de fazer um debate grandioso. Confusos, questionaram até mesmo a que classe social pertenciam os manifestantes, como se fosse exclusividade das classes populares o direito e a vontade de debater, transformar e mobilizar.

Os "rebeldes a favor" insistirão em suas frases feitas e ataques ferozes a tudo que for diferente, inovador e que pertube o conforto de suas posições. Usarão suas páginas e telejornais para confundir, jogando bombas de fumaça para desviar a atenção dos fatos relevantes que acontecem sob nossos narizes.

Mas creio eu que já é tarde. Aos poucos o novo vem tomando proporções razoáveis, trazido por bons ventos. Cabe manter firme a chama da crítica e da ação.

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