quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Educação informal e a superação da subalternidade

Eu e minha bisavó Maria. Meu sorriso explica tudo, não é?

Em um país de longa tradição escravocrata é marcante a subalternidade aferida a certas profissões. O trabalho braçal, em nossa trajetória histórica, ficou sempre marcada e associada a inferioridade. Não é por menos que negros e negras, além do preconceito mais visível, sofrem com o fardo do fato de seu fenótipo determinar sua posição na estrutura econômica de uma sociedade.

Nenhuma sociedade marca tanto seus membros com esse vestígio como a nossa. Nossa luta de clases tem a variável racial com um peso assustador, fazendo com que até mesmo negros e negras que tem um melhor acesso a bens materias e a educação, sofram esse preconceito, tendo suas oportunidades de vida limitadas, simplesmente por não terem a aparência que deveriam ter os médicos, gerentes, apresentadores de TV, dentre outras profissões.


Este preâmbulo é apenas para demarcar alguns elementos que julgo fundamentais para entendermos a exclusão e segregação em nosso país. Sou partidário da tese de que ações afirmativas são fundamentais para a superação do preconceito e da discriminação. Isso tudo associado a um modelo de desenvolvimento capaz de superar as desiguladades, efetivamente.

Uma grande ação afirmativa, meus caros amigos e amigas, é sem dúvida a educação informal, aquela que vem de casa. Os pais tem uma grande responsabilidade em relação aos seus filhos e filhas, já que dificilmente uma criança que compartilha desde cedo valores mais igualitários, visões menos hierarquizadas de sociedade, desde cedo, desenvolverá preconceitos quando mais velho.

Minha experiência, vindo de uma família multiracial, criado no subúrbio, na escola pública, e dividindo valores humanistas com meus pais, foi sem dúvida fundamental. Aliás, eu diria que foi mais decisivo na escolha de meus valores do que ler "O Manifesto Comunista".

Me lembro exatamente da primeira vez que falei com meus pais sobre racismo. Eu era muito criança. Assistia TV, um programa de auditório, e de repente aparece Sandra de Sá, cantando "Olhos Coloridos". Eu devia ter 5 ou 6 anos, e nunca tinha visto uma cantora negra na televisão. Aquilo me despertou, e eu enchi meus pais de perguntas, que didaticamente me explicavam um pouco sobre as agruras da questão racial no Brasil.

Minha Vó, Dona Penha, e vosso interlocutor
Na Rua Senador Feliciano Pena, no bairro Mariano Procópio, eu aprendi a solidariedade na bse da enchente. Época de chuva, rua cheia, casas invadidas pela água. Todos se ajudando, geladeiras nas costas, móveis para cima. Lá também, assistia minha avó se levantar da cadeira durante o almoço para servir um prato para quem quer que fosse, e batesse a porta pedindo. Marcante também, as histórias de minha bisavó, com sua sabedoria, seu sorriso. Lá, constituímos grupos de amigos que apenas dividiam o carinho e respeito, sem nenhum parãmetro consumista ou mercadológico.

Mas ora, dirão alguns, isso são apenas experiências isoladas, que são incapazes de transformar efetivamente o mundo. Talvez. Mas é inegável que o sonho humano de solidariedade e fraternidade, na construção de um mundo justo nascem na educação informal, nos pés no chão, nos simples gestos, nas pequenas coisas compartilhadas na várzea.

Pais e mães, não queremos que vocês criem pequenos revolucionários prontos para marchar pelas lutas sociais. Mas é tão simples abrir desde cedo o coração de seus filhos e filhas para o entendimento, a compreensão, a vida em harmonia com as diferenças e igualdades. 

Um gesto simples como o dos pais do menino Petros de Barros, de Belo Horizonte, pode ajudar. O garoto é fã dos garis. E bateu o pé, pois queria uma festa com o tema dos garis. Os pais toparam, não se prenderam ao aspecto da subalternidade da profissão. Petros provavelmente terá uma outra profissão quando adulto, mas dificilmente enxergará com olhos preconceituosos os trabalhadores da limpeza urbana, onde quer que esteja.

Foto: Virgílio de Barros - O Tempo

Um comentário: