quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O que esperar, de fato, do livro do Amaury

Uma das boas características da esquerda, entre seus hábitos e habitus na minha opinião é a teimosia, traduzida em intransigência. Bater o pé, em tempos que nos habituamos a deixar as águas passarem, pode ser uma bela virtude. Sendo assim, me permitam bater o pé nessa questão.

O livro "A privataria Tucana" de Amaury Ribeiro Jr, como era de se esperar vem gerando grande bafafá entre diversos setores da sociedade, principalmente na militância do campo democrático popular, que vem externando suas impressões através das redes sociais. Aos poucos o tema vem ganhando espaço também nos meios de comunicação convencionais que - mesmo não querendo - serão obrigados a tocar no assunto.






Os sentimentos múltiplos apontam para o "eu já sabia" e direcionam para a perspectiva de ação: algo deveria ser feito, já que o jornalista aponta documentos e provas que se pretendem contundentes. É natural que esperemos justiça tendo em vista o caráter criminoso que cercou a venda de tamanha fatia do patrimônio nacional. Ainda hoje, o líder do PT no Senado sinalizou que a estratégia do campo governista será de pedir investigações, o que pode abrir um importante precedente para tornar público e claro esse debate doloroso para os bicudos tucanos.

Quanto a isso, não há divergência, investigue-se. Apenas prefiro pensar de forma crítica qual é a tarefa efetiva daqueles que se posicionam contrários ao processo de privataria que legou uma série de consequências para a vida do povo brasileiro mas antes de tudo para a relação entre público e privado no Brasil.

Daí vem minha questão maior: não basta limitarmos o episódio do livro "A privataria" ao desejo de punição aos supostos criminosos. É fundamental que encaminhemos essa reflexão para uma etapa além, para um processo crítico de formulação sobre o que queremos do estado brasileiro e das relações que o mesmo estabelece com o privado.

Uma das maiores consequencias das reformas dos ano 90, para além da venda do patrimônio nacional - que reduziu a margem de manobra do estado brasileiro - foi a crescente mercantilização do estado nacional e das relações políticas que se estabelecem em seu seio.

A reversão do desmantelamento do estado através dos concursos públicos e reorganização do aparelho estatal foram grandes conquistas do governo Lula e tem tido alguma sequência no governo Dilma. Mas o enfrentamento a essa mercantilização, ainda precisa avançar. A afirmação positiva do estado quanto agente público, perseguidor dos interesses coletivos frente aos interesses privados é fundamental para que "privatarias" sejam realmente cenas do passado.

Porém, para esse avanço, é fundamental que a esquerda brasileira tenha mais que um programa de governo, é necessário ter um projeto de sociedade, que dê respostas a esses dilemas que rastejam ao longo de nossa história e voltam de tempos em tempos, assombrando nosso povo.

Um comentário:

  1. Excelente...espero que toda esquerda pense nessas questões com inteligencia

    ResponderExcluir