Parte de nossa elite* se atemoriza pelo simples fato de que hoje em dia no país o voto ganhou algum contorno de classe** e já não é possível controlar de forma automática como no passado os desejos e sentimentos de seus subordinados.
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Debret |
É minimamente curioso que às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais uma parte da sociedade, incluindo "formadores de opinião" insistam na tese de que o Partido dos Trabalhadores e determinados setores da esquerda "dividem" o país entre "ricos e pobres", "brancos e negros", "mulheres e homens", "heterossexuais e "homossexuais".
Tenho evitado grandes debates nesse momento, principalmente nas redes. Priorizei nesses últimos momentos de campanha a conversa rosto a rosto com pessoas nas ruas das cidades que frequento por achar mais proveitoso e prazeroso.
Mas infelizmente o grau de equívoco desse argumento me impeliu a tratar disso novamente, usando o blog para expôr algumas considerações.
Parto do princípio de que vivemos numa sociedade construída em pilares de desigualdade social, econômica, racial e de gênero. Desde as bases escravistas, passando pelo nosso modelo de estado nacional ao longo do século XIX e as transformações que vivemos ao longo da república e as idas e vindas que fomos colocados através dos momentos ditatoriais que enfrentamos. Sendo assim, para mim, é uma questão de princípio partir da premissa de que essa sociedade é historicamente desigual, e que parte dessa desigualdade não se fez por "providência divina" e sim como estratégia de manutenção de privilégios de determinados setores. Se você acha isso uma bobagem, recomendo abandonar a leitura desse texto e voltar para a tranquilidade da ética da cordialidade, onde os problemas são escondidos, abafados, amenizados e transformados em doçuras. Agora se você acredita que transformações sociais acontecem quando dedos são colocados em feridas históricas, sigamos em frente.