segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sobre violência e omissão; vamos acordar, Juiz de Fora?

No dia 22 de março escrevi um texto sobre a proibição de uma festa rave em Juiz de Fora. Minha crítica vinha do fato de que negar um alvará para o evento sob o argumento de que esse tipo de festa incitava a violência e o uso de drogas era um absurdo. Primeiro pela grosseira generalização desse tipo de evento, e em segundo pela incapacidade (ou falta de vontade?) do poder público em promover ações que realmente conscientizem e protejam os jovens, sem criminalizar suas expressões culturais.

Um pouco mais de um mês depois, neste final de semana que encerrou o mês de abril e iniciou maio, o noticiário de Juiz de Fora foi tomado por lamentáveis histórias de violência.



Destaco esse final de semana - mas cabe lembrar - que desde a proibição daquela festa, muitas coisas aconteceram na cidade. Um jovem morreu depois de ser esfaqueado na porta de uma escola, outra jovem encontra-se internada devido a a facadas que recebeu, também a caminho da escola. No dia 15 de abril, antes da chegada de uma operação policial na Vila Olavo Costa, dois irmãos são executados na porta de suas casas no bairro.  E por aí vai.

Jovem esfaqueado na porta da escola. A foto é reprodução de imagens da TVE-JF

Nesse final de semana, assassinatos na zona leste, na zona oeste.

O crime que fechou o final de semana violento na cidade: Pablo, de 14 anos, estava sentado com amigos na rua, no Bairro Nossa Senhora Aparecida, zona leste de Juiz de Fora. Segundo a imprensa, foi alvejado por um tiro no peito, disparado por um motociclista não identificado. Para alguns a razão do crime seria a rivalidade entre "gangues", mas efetivamente ainda não existem dados que esclareçam o crime.

Pablo, 14 anos. A imagem é do site MegaMinas

Sou - desde sempre - incapaz de me manter indiferente a esses fatos. Me angustio, sofro, sou tomado por um mal estar assustador quando as notícias chegam até mim. Não se trata de sentimento de compadecimento, é a reação de quem vive no cotidiano a realidade desses jovens, meninos e meninas, homens e mulheres, vítimas da violência urbana.

A dor maior é ter uma sensação de vazio. Essa sensação vem quando não percebemos a presença efetiva do poder público (com exceção da polícia que acaba podendo fazer pouco)  nessas comunidades, onde aos poucos, a vida passa a valer menos. O mesmo poder público, veloz em proibir festas como as raves ou bailes funk, é lento quando deveria fortalecer seus aparelhos públicos nos bairros da cidade.

Não se trata de reinventar a roda. As escolas públicas, historicamente são pontos de apoio para que jovens tenham caminhos alternativos a violência e a criminalidade. Nas escolas a maioria dos jovens constrói sua história de vida e tem a chance de trilhar um caminho diferente.

Mas as escolas não recebem o apoio necessário. Os professores, carro-chefe desse processo estão abandonados, desrespeitados por uma administração municipal, que desde sempre nos trata com descaso.

O Brasil vive um momento de recuperação econômica. Milhões de pessoas tem acesso a emprego maior renda, além de programas sociais. Mas sem um investimento efetivo na educação pública  por parte do poder público municipal, com base em um projeto educacional claro, baseado em um diagnóstico sério da realidade da cidade, corremos o risco de ver esse avanço se perder em meio ao mar de violência que aos poucos se torna comum na cidade de Juiz de Fora.

Obviamente não existem saídas mágicas. Mas o primeiro caminho é sem dúvida oferecer um caminho diferente para aqueles que muito cedo se perdem na violência.

Um comentário:

  1. Enquanto isso, em plena Halfed, Moraes e Castro e outros zilhões de lugares e JF, a droga rola solta... Nem precisa de "Rave" para tanto.

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