sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Restaurante popular, ineficácia e o nhoque da incompetência


A vida política fornece simbologias certeiras, ainda que de forma casual. Nesta antevéspera de Natal, sou supreendido (?) com a seguinte notícia, que poderia ser considerada mais um capítulo de uma novela - que torcemos, claro, para que tenha final feliz apesar do diretor da trama.

Prazo para entrega do Restaurante Popular é prorrogado por seis meses (Acessa.com)

 

Minha amiga Professora Regina Salomão, em comentário sobre mais esse duro golpe nas expectativas da população de Juiz de Fora, nos lembra do familiar nhoque consumido pelo então candidato a prefeitura, Custódio Mattos. Mais uma vez vem em minha mente como as peças publicitárias de candidaturas e governos, mesmo que pretendem-se inocentes acabam se saindo belas bravatas, que praticamente desafiam a paciência e bom senso de populações país afora.

 

Para quem não se lembra, em campanha na TV, o então candidato aparecia em uma cena familiar "cativante", exibindo uma bela e tradicional família nuclear (homem, mulher, filhos e netinhos), em uma casa bonita, onde almoçavam um belo nhoque servido por uma empregada feliz e satisfeita com seu patrão. Não preciso nem estender o texto para dizer que esse parâmetro de enquadramento familiar não corresponde a realidade do povo brasileiro, que constitui de forma livre e soberana seus núcleos familiares amplos, pautados muito mais em laços de fraternidade e solidariedade do que em concepções prévias de família, que já deixaram de ser predominantes há muito séculos. Mas esse parêtenses é apenas para não deixar de falar em um dos pontos que circundavam a (má) intenção dessa peça publicitária de mau gosto. Vamos ao que interessa.

 

O atraso nas obras do restaurante popular de Juiz de Fora tem consequências  graves e representam um descaso  grave e lamentável. Quando se aprofunda sobre o tema do restaurante descobrimos que não se trata apenas da oferta de refeições baratas para pessoas carentes. esse tipo de empreendimento envolve um conceito de política de soberania alimentar. Um restaurante como esse pode agregar um banco de alimentos, que além de empregar pessoas, ajuda a combater o desperdício de alimentos tão comum em nossos tempos, contribui para um processo pedagógico de educação alimentar, já que assistimos um crescimento recorde da população obesa em nosso país, é uma forma de escoar a produção agrícola familiar e orgânica, estimulando a economia solidária. Essa rede toda integrada por espaços de participação popular como por exemplo o COMSEA.

Foto: Acessa.com

Descrevendo assim, começa a ficar claro por que esse descaso. Um processo tão complexo exige uma gestão comprometida e eficaz, e com uma percepção política de sensibilidade que todos sabemos não existe na cidade de Juiz de Fora hoje em dia. Sem contar que iniciativas que apontem para mudanças na hegemonia das relações econômicas e aprofundamento da participação popular não agradam os que hoje dirigem os rumos da cidade.

 

Um dia imaginei que teríamos uma bela ceia de Natal no Restaurante Popular de Juiz de Fora, assim cmo já é tradição em Belo Horizonte por exemplo. Achei que pessoas teriam um Natal melhor, alguns por terem um bom e novo emprego na cadeia produtiva que envolve o restaurante, ou simplesmente pelo fato de sabermos que milhares de pessoas teriam dias melhores por terem consagrado seu direito a alimentação decente. Mas infelzimente a Nova Juiz de Fora não tem sido a cidade da boa nova.

 

Aos diferentes, notícias de postergação e o risco da desesperança. Aos indiferentes, suculentos nhoques na confortável mesa da incompetência.



4 comentários:

  1. Parabéns Tiago, pelas sus colocações, acertou na cheia - esta luta de 8 anos ainda não acabou a se inaugurar o RP em 2012, ainda não temos a certeza se realmente cumprirá com sua função de política pública de Segurança Alimentar e Nutricional uma vez que a prefeitura está pensando em terceirizar este equipamento...terceirizando não teremos controle sobre a qualidade do alimento ali servido, nem influencia sobre ações de educação alimentar e muito menos sobre o cardápio que deveria ser "resgatando hábitos alimentares regionais e ecologicamente sustentável"...
    O Conselho Municipal de Segurança Alimentar de JF (COMSEA-JF) vem acompanhando este drama há muitos anos e continua protestando contra a demora da inauguração do RP, evidenciando que a prefeitura de Juiz de Fora está ferindo um Direito Humano básico do cidadão que é o Direito à Alimentação Adequada.

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  2. Bettina, honrado com sua visita a este blog, neste debate que você tão bem conhece... vamos lutar muito para mudar essa situação. Abraços!

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  3. Realmente um belo texto.Mostra uma postura de descaso com a população que trabalha, estuda ou necessita de uma alimentação saudável para sua sobrevivência.Vamos torcer e lutar para que esse quadro de descaso seja eliminado.

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  4. Talvez a prefeitura ache que comeremos calçadas...
    Novas estão ficando, "óia" que beleza!
    Sirva-se a vontade, e depois, com certeza, haverá a sobremesa!

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